Publicado por Ivan Mario Braun
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CONTRA A HOMEOPATIA

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É um papel social do médico esclarecer a população: a ‪homeopatia‬ não tem provas a favor.

É importante esclarecer, também, que muitas pessoas confundem homeopatia com ‪fitoterapia, o tratamento através de partes de plantas ou seus extratos‬.

A fitoterapia, apesar de ser, frequentemente, menos comprovada que os remédios convencionais, consiste do uso de plantas com propriedades curativas muitas vezes reais. O grande problema da fitoterapia é que uma planta pode conter muitas substâncias químicas ao mesmo tempo e, possivelmente, só algumas delas são úteis. Na mesma planta, outras substâncias podem ser inócuas ("neutras") ou mesmo nocivas. Além disso, é difícil garantir que um comprimido de extrato de planta possui a mesma quantidade da substância útil que um outro, pois a concentração de substâncias numa planta pode ser diferente da concentração encontrada numa outra da mesma espécie: o solo onde foi cultivada, o quanto de sol recebeu e como foi colhida são alguns dos fatores que podem fazer com que, ao tomar um comprimido de origem vegetal, você esteja consumindo quantidades diferentes de substâncias ativas que outra pessoa que toma o mesmo tipo de comprimido de uma outra caixa. Outro aspecto interessante é que, por vezes, quando se estuda devidamente a planta medicinal, encontram-se nela substâncias idênticas àquelas usadas pela medicina convencional. Assim, por exemplo, na planta erva de São João (Hypericum), com efeito antidepressivo, encontraram-se substâncias químicas que têm ação idêntica aos dos antidepressivos mais antigos produzidos em laboratório, os inibidores de monoamino-oxidase (IMAO), incluindo os mesmos efeitos colaterais.

A homeopatia não usa exclusivamente substâncias extraídas de plantas e sua proposta nada tem a ver com a da fitoterapia. Ela, se baseia em princípios elaborados por Samuel Hahnemann, um estudioso que viveu entre o final do século XVIII e o século XIX. Numa época em que quase nada se sabia sobre o mecanismo das doenças, ele observou que o quinino, usado no tratamento da malária, em pessoas saudáveis provocava sintomas parecidos com os da malária. Assim, ele postulou que, se uma substância causasse em pessoas saudáveis os mesmos sintomas que aparecem em uma doença, ela poderia ter efeitos curativos sobre esta doença. Ele denominou este princípio de "o semelhante cura o semelhante". Como muitas destas substâncias eram venenosas, entretanto, ele resolveu usá-las de modo mais ou menos diluído, de modo que não houvesse prejuízos para a saúde. Acontece que:

1 - Atualmente se sabe que os sintomas que um paciente apresenta pouco tem a ver com as origens de sua doença: assim, uma dor de cabeça pode ser devida a uma contração muscular, a um mecanismo envolvendo vasos sanguíneos (como na enxaqueca) ou mesmo a um tumor. Assim, não há nenhum sentido em tratar pessoas com alguma medicação que cause dor de cabeça em indivíduos saudáveis, pois na pessoa doente a dor de cabeça poderia ter várias origens diferentes. Hoje em dia, procura-se tratar a doença com base na causa dela. Assim, dores de cabeça causadas por contrações musculares são tratadas com exercícios de relaxamento, massagem e alguns anti-inflamatórios; enxaquecas são tratadas com medicações com ação sobre os vasos sanguíneos e alguns anti-inflamatórios; tumores são tratados com cirurgias, quimioterapia ou radioterapia, dependendo de sua origem.

2 - O grau de diluição das mediações homeopáticas frequentemente é tão grande que, se forem feitos cálculos estatísticos, a probabilidade de se ter mesmo uma partícula de substância dentro de uma dose de remédio homeopático é quase zero ou seja, na imensa maioria das vezes, a pessoa está ingerindo apenas água ou outro diluente. Reagindo a isto, os defensores da homeopatia usam uma teoria que propõe que, mesmo que não haja nenhuma partícula de substância na água que o paciente toma, deve haver uma espécie de "memória": isto é, quando você dilui uma substância na água, ela mudaria a conformação físico-química do líquido de modo que ela registra que, em algum momento, já esteve em contato com a substância ativa. Por exemplo, se você dilui veneno de cobra (um ingrediente usado em algumas medicações homeopáticas) ao extremo, quase a zero, mesmo assim a água onde você diluiu o veneno teria uma memória deste veneno e isto, por sua vez, teria efeitos curativos. Esta teoria é uma completa mistificação, jamais comprovada no contexto.

3 - Finalmente, o que talvez seja o argumento mais importante, quanto mais se faz estudos científicos de boa qualidade sobre a homeopatia, mais claro fica que ela não produz nenhum efeito. Há pessoas que melhoram usando remédios homeopáticos, mas as pessoas melhoram pelos mais diversos motivos: acreditar que uma medicação vai funcionar ("efeito placebo") é uma causa COMPROVADA de melhora. Além disso, existem curas espontâneas de doenças, até mesmo de tumores malignos. Mas, quando se consideram estudos em grande número de pessoas ou se reúnem muitos estudos de homeopatia e eles são revisados de modo sistemático, fica claro que a quantidade de pessoas que melhoram é tão pequena quanto o número daquelas que melhorariam por acreditar que uma medicação funciona ou que melhorariam espontaneamente. Assim, parece que as melhoras obtidas em homeopatia se aproximam muito mais da "coincidência" do que de um real combate às doenças. Contrariamente, na medicina convencional, hoje em dia, todos os estudos devem ser feitos de forma rigorosa, de modo a demonstrar que os efeitos de uma substância são bastante superiores àqueles que podem ser obtidos por uma "coincidência". Caso a pesquisa NÃO comprovar que a medicação é suficientemente boa, ela sequer pode ser comercializada. Se, por algum acaso, ela for comercializada ou já tiver sido comercializada em épocas nas quais as pesquisas não eram tão rigorosas, frequentemente ela é retirada do mercado.

Assim, para uma medicina mais eficiente, devem ser pesquisadas medicações cada vez mais eficazes e com menos efeitos colaterais. Homeopatia não é a solução.